Ó ABRE ALAS
Chiquinha Gonzaga
Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira não posso negar
Eu sou da lira não posso negar
Ó abre alas que eu quero passar
Ó abre alas que eu quero passar
Rosa de ouro é que vai ganhar
Rosa de ouro é que vai ganhar
“Ó Abre alas” é a primeira música feita especialmente para a festa de carnaval, o que não apenas cria um estilo (a marcha rancho), mas também dá origem a uma tradição que se estende por mais de um século. Até 1888 (século XIX), os carnavais eram restritos aos cordões e bailes fechados ao estilo veneziano, com máscaras. Não havia músicas específicas para os desfiles. À época, o país vivia uma forte agitação social, com os clubes e agremiações surgindo aos montes nas grandes cidades. “No entanto, eles chegam a 1889 sem música própria. Nos cordões, se cantava qualquer coisa. Hinos patrióticos, canções folclóricas, trechos de ópera, árias de opereta, fados, quadrinha... tudo se cantava em carnaval, até marcha fúnebre”.
É neste momento que um dos cordões mais populares, o Rosa de Ouro, decide pedir à já famosa maestrina Chiquinha Gonzaga que fizesse uma música para o seu desfile de 1889. Chiquinha, que já era reconhecida em todo país como uma grande compositora, parte então para compor aquela que seria sua mais simples e popular obra. A música, composta de uma maneira despretensiosa pela maestrina, não trazia grandes novidades. A letra incorporava o grito de ordem de todos os cordões (“abram alas que eu quero passar”), enquanto a melodia era baseada no andamento processional dos cordões.
Porém, até então, ninguém havia feito uma música que seria utilizada especialmente no carnaval - inclusive com evocação para o título do desfile (“Rosas de Ouro é que vai ganhar”). Os desfiles dos ranchos eram marcados pelo ritmo da percussão, já utilizada em outros espetáculos. “Nos bailes se tocava música de salão, as canções mais animadas. A própria Chiquinha, inclusive, escreveu músicas para carnaval de salão, para os bailes mascarados”.
A “façanha” de Chiquinha é ainda mais impressionante se levarmos em conta dois fatores. Primeiro é que ela antecipa um processo que só se afirmaria décadas depois. “O que tem de original no !”Ó Abre alas” é o fato de ser uma canção específica para o carnaval. Apenas a partir de 1917 o carnaval passa a ter canções próprias com regularidade. Chiquinha praticamente batiza o carnaval”.
Assim, ”Abre Alas” se eternizaria praticamente apenas na memória da população. Seu primeiro registro fonográfico ocorreria quase cem anos depois, em 1972. Este, na verdade, é o seu grande mérito. Mais do que inaugurar um estilo, “Abre alas” foi incorporada à cultura nacional. “Esta canção venceu o tempo, gravada apenas na memória do povo”.
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